26.6.07

Piolho


A tarde trespassa-me num sufoco não gritado;
Suspiro sem entoar, bufo sem abafar.
Engulo o ócio num trago profundo, etilizante...
É engraçado o magnetismo da vontade.
Até na mais evidente perseguição,
há um desejo profundo de fuga,
de contramovimento obrigatório.
A presa é predador do medo, o predador é vítima genética do sobreviver.
Somos nós que qualificamos valores;
toda a nossa via mais fácil,
toda a corrente flácida que se atropela quando o ar é demasiado para a Inspiração que o prendeu!
Os meus pulmões são dor por sentir,
os meus olhares são uma melodia arrítmica...
É o que sobra de um Ser em viciosidade obsessiva.
Por isso quero tocar
agarrar
cheirar
conhecer
interpretar
ver
...+próximo...)
beber
...+tóxico...)
deitar
...inóspito)
adormecer caótico!!!
As brisas vespertinas pré-crepúsculo,
o desejo do pôr-do-sol antes de o ver acontecer,
as conversas que não tive,
as dedadas que assim foram,
as turras, cabeçadas e masmorras do dia-a-dia,
essas que me socorram.
Mas, por favor, não morram.
Amo a solidão como prenúncio gregário!
Amo o paralelo!
As vidas por se fazerem!
Amo os destinos por se cruzarem!
Os gestos reticentes e todos os entes não explorados!
todas as formas...
desde de que inéditas no porvir!
É que apaixonei-me pelo momento antes do beijo,
aquele que solta o calor das peles,
onde elas ressonam sem se tocarem numa espontânea simpatia.
Estou viciado em quase ser sem estar para acontecer,
gosto de me atirar do último andar e ficar suspenso a um milímetro do chão e não morrer!
E porque não?
Creio cada vez mais que é inútil o Querer como posse;
Querer faz com que nos movamos nos turbilhões mundanos, mas que não restem dúvidas...
È inóqua a sua acção profética.
São gotas, as nossas conquistas.
É oceânico o recipiente dos fados.
Ribombam os gotejos,
vibram em harmoniosa dissonância.
Tocam-se quando são impelidos para uma fragância contígua
(e quão mais etéreo vai envelhecendo o contacto)
e coalham quando deixam de se gotejar mutuamente!
Existimos em potência por querer sem a ilusão do ter.
O Ter será sempre consequência não obrigatória do Querer.
Senão, porque valeria a pena viver?
Daí preferir continuar assim...
a querer quase ser.
Pelo menos não sinto a cada inspiração o agro aroma do coalho!
Vou-me deliciando com a pantagruélica oferenda diária de queijos curados!!